SANTO DAIME

MESTRE IRINEU

A doutrina do Santo Daime foi fundada em 1930, por Raimundo Irineu Serra em Rio Branco, Acre. Nascido em 15 de dezembro de l892, em São Luis do Ferré (MA), filho de Sanches Serra e Joana Assunção Serra, deixou a sua terra natal aos 15 anos passando por diversos lugares até chegar ao Acre, atraído pela extração do látex da seringueira, em um período de intenso fluxo migratório aos seringais amazônicos, pois vivia-se naquela época o chamado “Ciclo da Borracha”.

Trabalhava como soldado da guarda territorial, no setor de delimitação da fronteira do Acre com a Bolívia e o Peru. Nesse período, na cidade de Cobija (Bolívia), fez amizade com dois conterrâneos, os irmãos Antônio e André Costa. Foram eles que lhe falaram de uma bebida milenar sagrada, a “Huasca”, utilizada pelas sociedades indígenas da região em seus rituais xamânicos.

Raimundo Irineu Serra foi convidado a consagrar a “Huasca” – ou Ayahuasca – pela primeira vez no Peru. Disseram a ele que a bebida era “arte de Satanás” e que muitos a tomavam para fazer pedidos de riqueza e fortuna. A princípio, o Mestre não aceitou o convite, mas depois reconsiderou.

A partir daí, a narrativa da iniciação de Irineu Serra na Ayahuasca é um misto de fatos históricos com fabulação mitológica desenvolvida ao longo dos anos pelos adeptos da doutrina.

Conta-se que Irineu tomou duas doses da bebida e não sentiu seus efeitos. Somente na terceira tomada é que chegaram as “mirações’’. Corajoso, ele começou a chamar por Satanás e todos os demônios para ajudá-lo a ganhar muito dinheiro, para que pudesse retornar para sua terra. Contudo, ele só via cruzes por todos os lados e de diversos tamanhos. Então ele começou a desconfiar: “Isso não é coisa do Diabo, o Diabo tem medo de cruz, e quanto mais eu chamo o Diabo, mais cruz aparece!”. Ele teve então a revelação de que a misteriosa bebida era divina, uma força ligada à luz, ao bem e à verdade. 

Ele estava sentado em uma roda de doze pessoas quando a entidade indígena Don Pizango se apresentou e “entrou” na cuia grande onde era servida a Ayahuasca, sendo percebido apenas por Irineu.

O caboclo pediu que Irineu convidasse o grupo a olhar dentro da cuia e que cada um dissesse o que estava vendo. Responderam que viam apenas a bebida. Pizango disse então a Irineu: “Só usted vai aprender o tanto que eu aprendi”. Então a entidade explicou a Irineu que só ele tinha condições de trabalhar com aquela bebida e que ninguém mais conseguia ver o que ele via com a Ayahuasca.

Conta-se que depois disso Irineu se deparou na floresta com a visão de uma bela senhora chamada Clara. Ela o orientou a fazer uma dieta na mata por oito dias, comendo apenas mandioca cozida sem sal, além de abster-se de álcool e sexo para depois tomar novamente o sacramento.

Antonio Costa disse a Irineu quais os ingredientes utilizados e o modo de preparo da bebida. Então, após a colheita do cipó Jagube e da folha Rainha, Raimundo Irineu conseguiu preparar o chá.

Após a dieta, ao tomar novamente a bebida, a visão da mulher surgiu novamente. Apresentou-se como a Rainha da Floresta, que Mestre  Irineu compreendeu ser a própria Nossa Senhora da Conceição, padroeira da Doutrina do Santo Daime. Aos poucos a entidade foi lhe passando as revelações e instruções que constituíram a base da doutrina do Santo Daime, da qual ele passou a ser o principal mentor, conhecido pelos discípulos como Mestre Irineu.

Mestre Irineu foi o responsável por consolidar o uso da bebida entre populações não indígenas. Através de cantos canalizados (hinos), ele realizou uma cristianização da bebida, ligando-a a temas e figuras próprias do catolicismo como Jesus, Maria, São João e outros santos.

O nome Daime foi criado pelo mestre para significar um rogativo, como utilizamos nas frases “Dai-me amor, dai-me paz, dai-me luz”.

Não se sabe ao certo os motivos que o levaram a abandonar Brasiléia, a mulher,  filho, a companhia dos irmãos Costa e os trabalhos como seringueiro. Raimundo Irineu Serra chegou em Rio Branco no dia 2 de janeiro de 1920 e sentou praça na força policial daquela cidade. Segundo antigos depoimentos continuou preparando e fazendo uso da bebida, cujos componentes eram acessíveis nas cercanias de Rio branco. Germano Guilherme, seu colega de tropa, a quem ele chamava de maninho, foi seu primeiro acompanhante nos estudos com a Ayahuasca.

A partir daí seu trabalho foi crescendo. Em 1930 foi realizada a primeira sessão oficial  e no São João de1935 o primeiro hinário  com farda. Sua fama de curador se espalhou. Era procurado por pessoas das mais diversas condições sociais e culturais. Foi filiado a diversas entidades espiritualistas como o  Centro da Comunhão do Pensamento e a Antiga Rosa Mística Rosacruz.

Ele representa o tronco original da religião  ayahuasqueira que estabeleceu a rica síntese entre o sacramento milenar da Ayahuasca e a nova revelação de um Cristo surgido na floresta, dentro de um cipó, revelado por uma aparição de Nossa Senhora.

Desta matriz, a partir de dissidências internas, surgiram outros seguimentos: Daniel Pereira de Matos fundou a linha da Barquinha e Sebastião Mota de Melo fundou o CEFLURIS (Centro Eclético da Fluente Luz Universal).

Raimundo Irineu Serra faleceu em 6 de julho de 1971.

Em 2006, estimava-se em aproximadamente 10.000 os seguidores da doutrina no Brasil e no mundo. Há centros legalmente instituídos em quase todos os estados brasileiros e em países como Espanha e Países Baixos, além de grupos que celebram os cultos em países como Estados Unidos, Canadá, Japão, Argentina, Chile, Uruguai, Venezuela e Portugal.

A doutrina atualmente é dividida em duas vertentes principais:
• O Centro de Iluminação Cristã Luz Universal (CICLU) – Alto Santo – dirigido pela viúva do mestre, Peregrina Gomes Serra
• O CEFLURIS, fundado por Sebastião Mota de Melo, natural de Eirunepé, Amazonas.

PADRINHO SEBASTIÃO

SEBASTIÃO MOTA DE MELO, nascido no Seringal Monte Ligia em 1920, desde cedo demonstrou propensão para fazer viagens astrais e ter visões dos seres encantados da floresta. Ele se desenvolveu mediunicamente na Doutrina Espírita, influenciado por seu compadre Oswaldo que era kardecista.

Sebastião se mudou para Rio Branco com a família em 1957, onde levava uma vida de colono e agia como curador dentro do seu círculo de parentes, compadres e afilhados. Foi um homem simples, de sólida convicção espírita.

Ele frequentava o grupo do Mestre Irineu e, deste, recebeu o conselho de seguir seu próprio caminho e fundar seu próprio trabalho, com a missão de expandir o culto do Santo Daime por todo o país e além de suas fronteiras.

Em 1974, Sebastião mandou registrar sua entidade religiosa e filantrópica, denominada CEFLURIS – Centro Eclético da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra, sociedade sem fins lucrativos responsável pela realização de trabalhos espirituais utilizando a bebida sacramental denominada Santo Daime.

Em 1982, fundou o assentamento que hoje vem a ser a Vila Céu do Mapiá, atual centro desta vertente da doutrina.

Padrinho Sebastião, como passou a ser conhecido, gostava de trabalhar na construção de canoas e de fazer grandes caminhadas pela floresta que tanto amava e conhecia.

Ao longo dos anos, recebeu carinhosamente muitos afilhados que chegavam de todas as partes do mundo, ampliando de forma significativa o número de adeptos da doutrina.

Fez algumas viagens ao sul do país para conhecer as igrejas que já tinham se formado em torno dos seus ensinamentos. Só neste momento foi que conheceu o mar, fato que muito o emocionou.

Faleceu em 20 de janeiro de 1990 no Rio de Janeiro, onde se encontrava para se tratar de uma grave doença cardíaca que o acompanhava já há alguns anos.

Se o Mestre Irineu é a raiz da doutrina, o Padrinho Sebastião foi aquele que espalhou as sementes, levando a Ayahuasca do coração da Amazônia para o mundo.

Viva o Mestre Irineu! Viva o Padrinho Sebastião!

OUTRAS LINHAS IMPORTANTES

UDV

A União do Vegetal teve sua origem na Floresta Amazônica, na fronteira do Brasil com a Bolívia.

José Gabriel da Costa trabalhava como seringueiro naquela região e, em 1959, bebeu o Chá Hoasca pela primeira vez com um senhor chamado Chico Lourenço.

Pouco tempo depois, Mestre Gabriel começou a distribuir o Vegetal, inicialmente para sua família e para outros seringueiros que trabalhavam na região. 

Em 22 de julho de 1961, ainda nos seringais da Amazônia, Mestre Gabriel realizou uma sessão e anunciou a criação da União do Vegetal, dando início ao trabalho de desenvolvimento espiritual de seus discípulos, ao qual ele se dedicou até desencarnar, em setembro de 1971.

A BARQUINHA