AYAHUASCA

O que é ayahuasca?


Ayahuasca é um nome de origem quéchua, importante família de línguas indígenas da América do Sul, ainda hoje falada por cerca de dez milhões de pessoas de diversos grupos étnicos da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru. Aya significa morto ou espírito e Huasca liana ou cipó. O nome, portanto, quer dizer “cipó dos espíritos”.

Refere-se a uma bebida psicoativa sacramental produzida a partir da fervura de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó Banisteriopsis Caapi (Mariri ou Jagube) com as folhas do arbusto Psychotria Viridis (Chacrona ou Rainha). Ainda que definida comumente como chá ou decocção, a Ayahuasca é na verdade um concentrado, uma redução de fervuras, resultando em um líquido marrom, de gosto forte e normalmente acidificado.

Especula-se que o uso da Ayahuasca tenha se iniciado entre os Incas por volta de 2000 anos antes de Cristo e se mantido constante ao longo dos séculos entre diversas populações nativas da região amazônica brasileira e andina para diversas finalidades, tais como: contato com os espíritos, adivinhação, preparação para a guerra, auxílio nas caçadas e proteção contra animais selvagens, práticas xamânicas e curandeirismo (diagnóstico e cura de doenças).

A partir do início do século XX, a população não indígena passou a ter contato com a bebida e formaram-se novos contextos de utilização do chá, além de novos significados para ele. Esta redescoberta da Ayahuasca por povos não índios propiciou a criação e o crescimento de movimentos espirituais organizados que passaram a considerá-la um sacramento eucarístico cristão.

Dentre esses grupos, os mais significativos são o Santo Daime, a União do Vegetal e A Barquinha, além de dissidências e de grupos independentes que a consagram em seus rituais utilizando estilos variados de crenças e ensinamentos, mas sempre mantendo o princípio comum de encarar a bebida como um expansor de consciência (enteógeno).

O que acontece? Quais os efeitos?


Cerca de 15 minutos após a ingestão inicia-se um processo psico-fisiológico de mudança na percepção sensorial ocasionado pelo aumento de neurotransmissores. As ondas cerebrais elevam-se, sente-se um relaxamento, os sentidos ficam mais aguçados e o processo cognitivo se amplia.

Algumas reações fisiológicas como vômito e sudorese podem ocorrer, sendo encaradas com naturalidade pelos usuários do chá que as veem como uma “limpeza” física, mental e espiritual.

Os casos de reações físicas mais intensas ocorrem mais raramente e são chamados de “purga” ou “peia”. Eles continuam sendo vistos como desejáveis, parte de um processo de limpeza e reequilíbrio que o chá proporciona e que não deve ser temido ou evitado.

Nesses casos, recomenda-se que o participante dos rituais deixe fluir naturalmente essas reações e, se necessário, contribua com tranquilidade para que seu corpo expulse as energias ruins através da limpeza intestinal, do vômito ou do choro.

Via de regra, os participantes dos rituais sentem-se muito bem. Com o acompanhamento de músicas (hinos) e orações, uma espécie de sexto sentido paranormal aflora, intensificando emoções, provocando insights, experiências místicas, estados meditativos e mediúnicos, processos criativos, recordações, visões e experiências oníricas que os ayahuasqueiros chamam de mirações. São experiências intensas que nenhuma descrição pode abarcar e que só se pode conhecer tomando a bebida sagrada.

Normalmente os efeitos mais intensos são experimentados até um máximo de 4 ou 5 horas, permanecendo depois apenas um estado natural de relaxamento e plenitude que pode se manter até por alguns dias.

Muitos dos que comungam a bebida também relatam efeitos mais profundos e duradouros, como transformações de padrões de comportamento, libertação de vícios e depressão, além de mudanças positivas nos relacionamentos e na vida em geral.

Ayahuasca não é droga?


Se considerarmos o açúcar, café, guaraná, chimarrão, entre outros, como substâncias que alteram o metabolismo, a terminologia está correta. No entanto, em seu sentido social ou bioquímico, normalmente associamos a palavra “droga” a substâncias destruidoras ou desestruturadoras e que causam dependência física ou psíquica. Neste sentido Ayahuasca NÃO É DROGA!.

Seu uso definitivamente não causa nenhum tipo de dependência e, ao longo dos anos, por experiência testemunhal e também através de pesquisas comprovou-se que não há nenhum efeito prejudicial ao organismo. Pelo contrário, seu uso medicinal ou terapêutico é cada vez mais investigado.

Os que classificam a Ayahuasca como “alucinógeno” também cometem impropriedade conceitual, segundo o antropólogo norte-americano Gordon Wasson, que distingue “estados alterados de consciência” ou “alucinações” de “estados ampliados de consciência”.

Para este e muitos outros pesquisadores, a classificação da Ayahuasca como “alucinógeno” é uma imprecisão, pois a mesma não causa perda do contato com a realidade – como pressupõe o termo – mas sim um grau ampliado de percepção que permite a compreensão daquela realidade com maior clareza ou transcendência.

Pesquisadores da área de etnobotânica têm proposto a classificação da Ayahuasca como “enteógeno”, ou seja, substância que “gera uma experiência de contato com o divino”, causando uma sensação generalizada de aproximação com o sagrado, facilitando o autoconhecimento e o aprimoramento do ser humano, com inúmeros casos registrados de reestruturação familiar, profissional, social, moral, ética, intelectual e espiritual.

Seu uso é permitido legalmente?


Sim! O uso ritualístico da Ayahuasca é garantido pela justiça brasileira através da Resolução Nº1 do CONAD, publicada no Diário Oficial em 25 de Janeiro de 2010.

Esta resolução é o resultado das deliberações do Grupo Multidisciplinar de Trabalho para os estudos da Ayahuasca (GMT/CONAD), que produziram o documento de deontologia e atual regulamentação para uso restrito a grupos religiosos legalmente constituídos, como é o caso do Grupo Ayahusqueiro Celebração.

Este reconhecimento de legalidade não é novo, é apenas uma complementação mais abrangente de outros processos de investigação já ocorridos nos anos de 1986 e 1992, pelo antigo CONFEN, que já havia deliberado por unanimidade permitir seu uso ritualístico.

O relator do processo de investigação, Domingos Carneiro de Sá, explicou que o fato fundamental para a liberação da bebida foi o comportamento dos usuários e a seriedade dos centros que utilizam o chá em seus rituais:

“Não foram observadas atitudes anti-sociais dos participantes dos cultos, ao contrário, constataram os efeitos integrados e reestruturantes com indivíduos que antes de participarem dos rituais apresentavam desajustes sociais ou psicológicos. Padrões morais e éticos de comportamento em tudo semelhantes aos existentes e recomendados em nossa sociedade, por vezes até de um modo bastante rígido, são observados nas diversas seitas. Obediência à lei pareceu sempre ser ressaltada. Os seguidores das seitas parecem ser pessoas tranqüilas e felizes. Muitas atribuem reorganizações familiares, retorno de interesse no trabalho, encontro consigo próprio e com Deus, etc., através da religião e do chá. O uso ritual do chá parece não atrapalhar e não ter conseqüências adversas na vida social dos seguidores das diversas seitas. Pelo contrário, parece orientá-los no sentido da procura da felicidade social, dentro de um contexto ordeiro e trabalhador.”

Vídeos informativos sobre a Ayahuasca


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