Ele também elimina o julgamento de que reinos não materiais são melhores (ou piores) que os materiais — uma tendência de algumas religiões New Age. A experiência de ver e falar com criaturas do tipo deva no transe de DMT é apenas isso: ver e falar com outros seres. Nem melhor, nem pior e nem mais ou menos confiável, do que qualquer um ou qualquer outra coisa.
Por outro lado, como tratar o voluntário que teve uma iluminação induzida por drogas? Certificá-lo(a) como iluminado? Explicar através da farmacologia o impacto meteórico da experiência?
Foi confuso. Primeiro, pareceu que uma dose alta de DMT era, de fato, transformadora. Com o passar do tempo, contudo, checando nossos voluntários por meses e anos, minha perspectiva de fato mudou. Enquanto alguns, como Elena, tiveram benefícios profundos de sua participação, um pequeno número de voluntários tiveram reações negativas e assustadoras, que exigiram algum cuidado depois.
Em outros, efeitos adversos mais sutis também se revelaram (como pode acontecer na prática budista) na forma de orgulho elevado — ou seja, uma divisão do mundo entre os que tem e os que não tem “entendimento”. Além disso, a “resolução” de problemas durante o estado alterado — particularmente comum com uma dose psicodélica alta — cuja solução não era colocada em prática, me pareceu pior do que nem tentar trabalhar determinada questão.
Conclui que não há nada inerente em psicodélicos que possua um efeito benéfico. Também não são farmacologicamente perigosos por eles mesmos. A natureza e os resultados da experiência são determinados por uma complexa combinação da farmacologia da droga, o estado do voluntário no momento do consumo e a relação entre o indivíduo e o ambiente físico e psicológico: droga, condição e ambiente.
Os voluntários que se beneficiaram mais das sessões de DMT foram os que provavelmente se beneficiariam mais de qualquer “viagem” — com ou sem drogas. Os que se beneficiaram menos foram aqueles que mais se sentiam invadidos pelo desconhecido, pelo unusual. As sessões mais difíceis aconteceram pela combinação de dois fatores. O primeiro foi a indisposição do voluntário para desistir do diálogo interno e consciência do corpo. A segunda, a incerteza ou relações confusas entre os voluntários e as pessoas presentes na sala. Assim, os efeitos “religiosos”, “adversos” ou “banais” dependeram mais da pessoa ou do que ela ou aqueles na sala trouxeram para a sessão, do que qualquer característica inerente da droga.
Assim, o problema de depender de uma ou diversas experiências psicodélicas transformadoras como prática é que não há uma estrutura que lide adequadamente com a vida cotidiana no intervalo entre as sessões. A introdução no ocidente de igrejas baseadas em plantas alucinógenas amazônicas, com seu conjunto de códigos morais e rituais, podem fornecer um novo modelo combinando práticas religiosas e psicodélicas.
No último ano de meu trabalho, um novo componente comum pessoal entre budismo e psicodélicos apareceu. Isso envolveu o que pode ser descrito como uma briga entre minha comunidade Zen e eu. Por anos, recebi apoio — pelo menos, implícito — de diversos membros da comunidade Zen para seguir com minha pesquisas. Estes eram praticantes antigos com suas próprias experiências psicodélicas anteriores. No ano passado, descrevi meu trabalho para membros da comunidade, ingênuos em relação a psicodélicos, que o condenaram fortemente. Praticantes antes a favor pareceram estar sendo pressionados para retirar qualquer apoio.
Essa preocupação estava especificamente direcionada a dois aspectos de nossa pesquisa. Um deles era uma futura psicoterapia com psicodélicos para doentes terminais, pesquisa que demonstrou potencial impressionante nos anos 60. Ou seja, em pacientes com dificuldades no processo de morte, uma sessão com uma alta dose psicodélica poderia atenuar o sofrimento e desespero associado com sua doença terminal.
A outra área de preocupação era o potencial para efeitos adversos, tanto os óbvios quanto os mais sutis, já previamente descritos.
Foram dados argumentos empíricos e com base nas escrituras para essa reprovação, além das experiências dos próprios membros da comunidade. Contudo, me pareceu que a principal preocupação era que seria muito desfavorável para eles, como uma comunidade budista, ter associado de alguma maneira o budismo com o uso de drogas. Pareceu que os praticantes que tiveram experiências psicodélicas (e descobriram que elas estimularam seu interesse pela vida meditativa) tiveram que dar o aval àqueles que nunca tiveram.
O que experimentei como um atrito entre disciplinas não é incomum no mundo e, talvez, na comunidade budista em particular. A questão se resume a: é considerado “budista” dar, consumir ou se ocupar com psicodélicos como ferramentas espirituais?
Vários projetos de pesquisa estão sendo planejados nos EUA, usando psicodélicos para tratar o vício em drogas — condição de alto índice de mortalidade, caso não seja tratada. Entendo os preceitos budistas que toleram o uso de “intoxicantes” por motivos médicos (por exemplo, cocaína para anestesia local, narcóticos para controle da dor). É importante notar se um budista sofre ou não tratamento igual por dar ou consumir um “intoxicante” psicodélico para o tratamento de uma condição médica. O complicador nesse caso é que efeitos psicológicos/espirituais de uma sessão adequadamente preparada e supervisionada podem revelar efeitos de cura.
Em uma área comum final, acredito que há modos em que o budismo e a comunidade psicodélica podem se beneficiar de uma aberta e franca troca de idéias, práticas e éticas. Para a comunidade psicodélica, a ética, o estruturamento disciplinado da vida, a experiência e as relações fornecidas por anos de comunhão budista têm muito a oferecer. Essa bem desenvolvida tradição poderia injetar significado e consistência em experiências psicodélicas isoladas, fragmentadas, pobremente integradas, sem o amor e compaixão necessários e praticados diariamente. Sem isso, essas experiências acabariam “fritas” num excesso de narcisismo e auto-indulgência.
Embora boas experiências sejam possíveis sem uma tradição de meditação budista, elas são menos prováveis sem a checagem e o balanceamento de uma comunidade dinâmica de praticantes.
Além disso, praticantes budistas dedicados com pouco sucesso em suas meditações, mas bem desenvolvidos em aspectos morais e intelectuais, poderiam se beneficiar de uma sessão psicodélica cuidadosamente agendada, preparada e supervisionada, para acelerar sua prática. Psicodélicos fornecem uma visão que — para alguém inclinado — pode inspirar o trabalho duro necessário para fazer dessa visão uma realidade viva.